Da minha infância
Já não consigo me lembrar
De muita coisa
Mas sei que já não sou
Aquela criança
Cheia de sonhos e esperança
Afinal, enquanto se cresce
O mundo muda a gente
Gente que se esquece dos ideais
As brincadeiras
Ficaram vagamente
Nas lembranças
Os amigos daquele tempo
Seguiram seus caminhos
E suas escolhas
E hoje já nem sei quem são
Mas desejo de coração
Que eles estejam bem
Eu ainda estou correndo atrás
Da minha subsistência
No caos dessa cidade grande
Quem foi que disse
Que quando se cresce
É mais fácil de ser feliz
Se a gente se depara
Com um mundo de ilusões
E um sistema injusto e feroz
Que nos faz deixar pra trás
Os planos e a raiz
Que nos manteve de pé
E a gente começa desacreditar
E até abandona a fé
Mais um entre tantos erros
E vive correndo, assustado
E com medo da violência
Que parece não ter fim
Não tem tempo pra si
Muito menos para um café
Com quem vaga por aí
O mundo de gente grande
E soberbo, egocêntrico
E individual
Já a criança tem humildade
Pra sorrir, compartilhar amor
E paz que rebate todo mal
Hoje quem eu sou
Não tem nada a ver
Com quem eu já fui um dia
Dizem que isso faz parte
De nossas vidas
E a arte de gente grande
É ser sempre iludida
E presa nas responsabilidades
Da liberdade assistida
Da felicidade momentânea
Em meio às feridas
Que nunca vão cicatrizar
Nessa vida de gente grande
Cheia de erros e cada vez mais longe
Daquele tempo bom de criança
A ilusão de ser gente grande
Julio Cantuaria